Pratyabhijna

Xiva sob a forma de Bhairava Svacchanda dançante, com 18 braços representando os 18 poderes (xáctis), tal como o Conhecimento, a Lei e o Som.[1] Para pensadores dessa escola, Bhairava é a Consciência Suprema.[2] Kshemaraja o explica como sendo aquele que, pelo próprio livre-arbítrio espontâneo, cria o universo como o seu jogo, em um êxtase eterno. Xiva, ou Bhairava, é a realidade suprema para os adeptos do Pratyabhijñā.[1]

Pratyabhijñā ou Pratyabhigyā[3] ( em sânscrito: प्रत्यभिज्ञा, transl. pratyabhijñā, literalmente "reconhecimento") é uma escola de filosofia idealista, monista e teísta no xivaísmo da Caxemira que se originou no século IX d.C. O termo Trika ("Tríade", em referência às várias tríades existentes no sistema, como a de vontade, cognição e ação[4][5]) foi usado por Abhinavagupta para representar todo o xivaísmo da Caxemira, ou para designar o sistema Pratyabhijñā.[6][7]

É o ramo idealista do xivaísmo da Caxemaria que desenvolveu o sistema mais sofisticado e influente de teologia xaiva, contrapondo-se à ortodoxia indiana.[8] Em meio ao contexto de tensão entre a tradição escriturística de conhecimento revelado (ágama) e o raciocínio lógico (yukti), sua culminância se deu nas investigações epistemológicas (pramana) dos próprios ágamas pelos pensadores do Pratyabhijñā.[9]

O nome do sistema é derivado de sua obra mais famosa, Īśvara-pratyabhijñā-kārikā de Utpaladeva.[10]:254 Etimologicamente, pratyabhijñā é formado de prati- ("re-") + abhi- ("de perto") + *jñā ("saber"), então o significado é "conhecimento direto de si mesmo", "reconhecimento".[11]:117

A tese central desta filosofia é de que tudo é consciência absoluta, denominada Xiva, e que é possível "reconhecer" esta realidade fundamental e ser libertado das limitações, identificando-se com Xiva e imergindo em beatitude.[12] Assim, o escravo (paśu: a condição humana) se livra dos grilhões (pāśa) e se torna o mestre (pati: a condição divina).[10]:254

  1. a b Kaul, Advaitavadini. «Svacchanda Bhairava: Blissful Spontaneous Will of Śiva». In: Bäumer, Bettina Sharada; Stainton, Hamsa. Tantrapuṣpāñjali: Tantric Traditions and Philosophy of Kashmir: Studies in Memory of Pandit H.N. Chakravarty. Nova Déli: Indira Gandhi National Centre for the Arts; Aryan Books International 
  2. Stainton, Hamsa (5 de agosto de 2019). Poetry as Prayer in the Sanskrit Hymns of Kashmir (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press 
  3. Lalla, the prophetess (1924). The Word of Lalla the Prophetess, being the Sayings of Lal Ded or Lal Diddi of Kashmir (em inglês). [S.l.]: CUP Archive 
  4. Nemec, John (22 de julho de 2011). The Ubiquitous Śiva: Somānanda's Śivadr̥ṣṭi and His Tantric Interlocutors (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press, USA 
  5. Murphy, Paul E. (1986). Triadic Mysticism: The Mystical Theology of the Śaivism of Kashmir (em inglês). [S.l.]: Motilal Banarsidass Publ. 
  6. Carl Olson, The Many Colors of Hinduism, Rutgers University Press, 2007, page 237
  7. Flood, Gavin (12 de setembro de 2021). «Eastern Philosophy and Idealism». In: Farris, Joshua; Göcke, Benedikt Paul. The Routledge Handbook of Idealism and Immaterialism (em inglês). [S.l.]: Routledge 
  8. Geoff, Ashton, (17 de outubro de 2019). «Divine Androgyny and the Play of Self-Recognition: Revisiting Some Issues in Gender Theory through an Unorthodox Interpretation of Ardhanārīśvara». In: Howard, Veena R. The Bloomsbury Research Handbook of Indian Philosophy and Gender (em inglês). [S.l.]: Bloomsbury Publishing 
  9. Kaul, Mrinal (5 de novembro de 2022). «Causal Reasoning in the Trika Philosophy of Abhinavagupta». In: Sarukkai, Sundar; Chakraborty, Mihir Kumar. Handbook of Logical Thought in India (em inglês). Springer India
  10. a b S. Kapoor. The Philosophy of Saivism. 1. [S.l.: s.n.] 
  11. Jaideva Singh (1982). Pratyabhijñāhrdayam. [S.l.: s.n.] ISBN 8120803221 
  12. The Yoga of Kashmir Shaivism – S.Shankarananda, p. 45

© MMXXIII Rich X Search. We shall prevail. All rights reserved. Rich X Search